Nas últimas semanas têm-se multiplicado os livros sobre o 25 de Abril. O que escolhi para esta semana não tem sido muito badalado, mas a originalidade da abordagem merece atenção.
Ana Sofia Fonseca foi falar com algumas mulheres de militares que fizeram o 25 de Abril e escreveu “Capitãs de Abril, a revolução dos cravos vivida pelas mulheres dos militares”.
Além da divulgação de aspectos curiosos, o livro revela o comportamento de algumas mulheres nos dias que precederam a Revolução: dentro de casa, organizando jantares de família, dando cobertura às reuniões clandestinas do MFA, ou dando apoio logístico à organização, estas mulheres foram também protagonistas do 25 de Abril.
Ficámos a saber, por exemplo, que Dina Afonso, mulher de Otelo, acompanhava o marido nas viagens exploratórias a locais que teriam importância para o êxito do 25 de Abril. Enquanto tricotava e via o filho a brincar, desviava a atenção do que o marido andava a urdir.
Natércia Salgueiro Maia conta como ficou com o coração apertado, quando o marido lhe disse “É hoje” e Ana Coucello- mulher de Luís Ferreira de Macedo, adjunto operacional de Otelo- preparou um jantar para os familiares. “ Era preciso aparentar naturalidade e confundir a PIDE”. Antes, já fora ela a dactilografar o manifesto do MFA, escrito por Melo Antunes.
Aura Costa Martins e Teresa Alves falam da ansiedade vivida nas últimas horas do regime e das reacções quando ouviram João Paulo Dinis anunciar “ E Depois do Adeus”.
Outras histórias nos prendem a atenção e outros pormenores nos são revelados neste livro. Como, por exemplo, a de Clarisse Guerra- única mulher a ler o comunicado do MFA aos microfones de uma rádio.
Uma das histórias mais vibrantes, porém, é a de Celeste Martins Caeiro.
Na manhã de 25 de Abril, quando chega ao restaurante onde trabalha, o patrão comunica-lhe que não abrirá as portas nesse dia. Distribui pelas empregadas os cravos que diariamente eram oferecidos aos clientes e Celeste ruma à baixa, sem fazer a mínima ideia do que se estava a passar. No Rossio, fica a ver os militares a passarem e, movida pela curiosidade, pergunta a um soldado o que estão ali a fazer. Este é o diálogo que se segue:
— Uma revolução!— E é para melhor ou para pior?
— É para acabar com a guerra e com a PIDE. Saímos do quartel ainda era noite…
— Então, e precisam de alguma coisa? Como é que posso ajudar?
— Se tiver um cigarrinho… Um cigarro calhava bem.
— Bem gostava de lhe dar um, mas nunca fumei… Olhe, tome lá um cravo que tanto se oferece a uma senhora como a um senhor”.
E com este diálogo espero ter-vos despertado o apetite para a leitura deste livro de Ana Sofia Fonseca, uma jornalista que, em boa hora, decidiu contar-nos o 25 de Abril visto por algumas mulheres que nele também participaram, mas até hoje tinham estado na penumbra.
Boa leitura e bom fim de semana
Desconhecia o livro, mas vou comprar.
ResponderEliminarGrato abraço, meu amigo, pela sugestão, rrss
Vou comprá-lo!
ResponderEliminarObrigada pela dica!
Beijinhos.
Excelente ideia a da Ana Sofia Fonseca, o livro deve ser bastante interessante! :)
ResponderEliminarBeijocas